Certo, estudante paga meia em função do acesso supostamente facilitado a cultura.Mas esse texto demonstra claramente que o incentivo a cultura custa aos produtores do show e não ao governo, que de certo faz exatamente o que é dito, da esmola com o dinheiro do bolso dos outros.
Produzir shows é uma profissão como qualquer outra , claro que deve-se existir um apoio a cultura e uma facilidade de acesso a cultura não só para os estudantes mas para várias outras classes de público, mas não exatamente tem que sair do bolso dos produtores.
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Você conhece a lei da meia-entrada. É aquela que garante aos estudantes o direito a 50% de desconto em eventos culturais e esportivos. Cinema, teatro, shows, circo, zoológico, jogos de futebol, museus, exposições, tudo pela metade do preço.
“Ah, mas é justo. Estudante tem que ter o acesso à cultura facilitado.”
Também acho. Mas quem propicia esse acesso facilitado à cultura é o governo (municipal, estadual ou federal), certo?
Errado. O governo brasileiro, como de costume, dá esmola com o dinheiro dos outros. O promotor do espetáculo, que é obrigado por lei a conceder 50% de desconto, não tem contrapartida alguma. Isenção de impostos? Não. Benefício fiscal? Nada. Indenização em dinheiro? De jeito nenhum.
Cada vez que um estudante apresenta a carteirinha e paga meia, quem banca a outra metade é o promotor do espetáculo. Ele entrega o produto por inteiro e só recebe metade do ingresso.
“Ah, mas o lucro deles é enorme! Que diferença faz pro cinema se eu pago R$ 15 ou R$ 7,50?”
Toda a diferença. Basta conhecer um pouco de matemática para entender.
Suponhamos que a produção de um show tenha um custo total de 100 mil reais, entre cachê, aluguel do espaço, equipamentos de som e luz, segurança, bilheteria, etc. Suponhamos que o promotor queira um retorno de 20% do capital investido. Temos aí que o faturamento do show tem que ser de 120 mil reais.
Supondo ainda que a casa tenha capacidade para 2 mil pessoas, e que todos os ingressos serão vendidos, o preço unitário do ingresso deveria ser de 60 reais. Certo?
“Viu? Eles que são gananciosos, querem ganhar muito e cobram mais de 100 reais no ingresso de um show!”
Errado, porque com ingressos a 60 reais, os estudantes pagariam apenas 30. Se 60% do público for de estudantes, a arrecadação total do show seria de 84 mil reais, o que não cobre o custo do promotor.
O que se faz então? Simples, dobra-se o valor do ingresso. O show que custaria 60 reais para todos se não existisse a meia-entrada, vai custar 60 para os portadores de carteirinha e 120 para os não-portadores. E quem foi que pagou meia no final das contas? Ninguém.
“Ah-rá! Te peguei. De acordo com as suas contas, então o promotor do show vai faturar 168 mil reais, ganhando bem mais que 20%! Viu, eles que são gananciosos!”
E os riscos do produtor? E se ao invés de casa lotada, apenas metade dos ingressos for vendida? E se forem 70% de estudantes ao invés de 60%? E se o lucro realmente for de 68%? É errado visar o lucro no Brasil? Capitalismo ainda é palavrão?
A situação já seria feia se apenas estudantes portassem a carteira de estudante. Mas é de conhecimento geral que não há nada mais fácil que conseguir uma mesmo sem nunca ter colocado a bunda numa cadeira de escola. Eu conheço um cara que tem uma carteirinha de estudante do curso de arqueologia. Você conhece algum curso superior de arqueologia no Brasil? Pois existem carteirinhas de estudantes de arqueologia.
“Mas se o preço fosse justo, não ia ter tanta falsificação. As pessoas só falsificam porque cultura é muito caro.”
Ou será que cultura é muito caro porque existe falsificação de carteirinha? As pessoas falsificam o documento de estudante para obter uma vantagem: pagar metade.
Quem estuda em faculdade particular, pagando em torno de mil reais de mensalidade, tem direito a desconto. E alunos de pós-graduação, já formados, empregados, quem gastam 20 mil reais por ano em um MBA, também têm direito a desconto de 50%.
São esses os cidadãos que precisam tanto de acesso facilitado à cultura?
“Então você quer o quê? Acabar com a meia-entrada?”
O que eu penso? Sou contra o desconto pra estudante. Se o governo acha que deve disseminar a cultura entre os jovens, ele que ponha as secretarias pra trabalhar. Cinema de graça em centros culturais, shows gratuitos em escolas públicas, tudo com verba própria. Quem quiser assistir Homem-aranha 3 ou ver o show do Evanescence, que pague o ingresso. Inteiro.
E, por favor, eu gostaria de ler comentários inteligentes. Quem disser, por exemplo, que eu sou contra a cultura, ganha o direito de ser ridicularizado em postagens futuras. Assim como aqueles que argumentarem com o objetivo único de defender o próprio direito.
Postagem retirada do site " Tempos estranhos"
link: ~~> http://migre.me/4mWu7
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