terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Grande reencontro: Raven volta a tocar no mesmo palco que o Metallica, na turnê que passa pelo Brasil

Mais de 30 anos depois, em situações opostas, Raven volta a tocar no mesmo palco que o Metallica, na turnê que passa pelo Brasil. Fotos: Divulgação/Reprodução.

O Raven hoje: John Gallagher (baixo e vocal), Marl Gallagher (guitarra) e Joe Hasselvander (bateria)

Era o ano de 1983 e o álbum “All For One” levou o Raven a fazer uma grande turnê pelos Estados Unidos. Como banda de abertura, em sua segunda turnê, foi escalada um quarteto americano iniciante, que atendia pelo esdrúxulo nome de Metallica. Agora, quase trinta anos mais tarde, o reencontro acontece justamente no Brasil, em papéis invertidos: é o Raven que vai fazer a abertura do único show do agora gigante Metallica, na turnê “By Request”, no mês que vem, em São Paulo.

Enquanto o Metallica teve trajetória fulminante que chega superar os limites do heavy metal, o britânico Raven, um dos destaques da chamada new wave of British heavy metal, viveu uma carreira de altos e baixos, mas nunca parou totalmente as suas atividades. O pior momento se deu em um acidente com o guitarrista Mark Gallagher, em 2001, quando ele quase ficou definitivamente sem andar após o desabamento de um muro em construção sobre suas pernas. A recuperação foi lenta - mais de quatro anos de operações e fisioterapia -, sendo que o grupo chegou a fazer alguns shows com o guitarrista em uma cadeira de rodas.

Como se vê, o trio - completado por John Gallagher, irmão de Mark (baixo e vocal) e Joe Hasselvander (bateria) é duro na queda. Mas só em 2009 é que um disco de inéditas, “Walk Through Fire”, recolocou o trio no mercado. No ano passado foi lançado o DVD duplo “Rock Until You Drop - A Long Days Journey”, que dá uma geral na carreira da banda; só o documentário tem mais de três horas de duração. Se você não pretende ir à São Paulo ou tampouco quer rever o show do Metallica, não se preocupe. O Raven está fechando datas em outras cidades brasileiras no mesmo período.

É o que garante o o baixista John Gallagher, em uma entrevista feita via e-mail. Ele conta como surgiu a oportunidade desse reencontro com o Metallica, através do empresário brasileiro; das histórias de 30 anos atrás, de como a banda se virava em época pré-internet; do acidente sofrido pelo brother Mark; e das aventuras mais recentes de uma banda que se recusa a deixar os palcos. Veja abaixo como foi a conversa:

Rock em Geral: O Raven vai abrir o show do Metallica no mês que vem, em São Paulo. Como isso aconteceu? Como eles entraram em contato com vocês?

John Gallagher: Estávamos trabalhando em algumas datas pela América do Sul e o nosso agente no Brasil, Rodrigo Scelza, falou: “Ei, o Metallica vai tocar em estádios por aqui… vocês ainda mantém contato com eles?” Foi tão engraçado porque tínhamos acabado de tocar em São Francisco em outubro e o Lars (Ulrich, baterista do Metallica) foi ao show com sua noiva e o filho, foi a primeira vez que nos encontramos em milhões de anos e foi muito legal, só para agradecer a participação dele no nosso DVD, sabe? Então, quem não arrisca, não petisca… falamos com eles sobre o show de abertura e eles toparam!

REG: Vai ser a primeira vez que vocês vão tocar, já que é um show do Metallica, para um público tão grande no Brasil. Qual é a expectativa de vocês?

Gallagher: Ah, tenho certeza de que vai ser animal - só precisamos que seja animal! O público brasileiro é louco, tão empolgado e apaixonado, é um prazer tocar no Brasil!

Os irmãos John e Mark Gallagher em ação; grupo volta a tocar com o Metallica, dessa vez no Brasil 


REG: Vocês já conversaram sobre o repertório do show? Vai ter mais clássicos ou mais material recente?

Gallagher: Ainda não, tudo vai depender do tempo de show que teremos. Mas acho que vamos tocar principalmente os clássicos, “Rock Until You Drop”, “All For One”… coisas que funcionam em um grande palco.

REG: Será que vai rolar de vocês tocarem uma ou outra música junto com o Metallica?
Gallagher: Tudo é possível! Mas já estamos muito felizes pela oportunidade de fazer esse shows!

REG: Vocês vão fazer só esse shows no Brasil? Por que não aproveitam para tocar em outras cidades?

Gallagher: Vamos fazer outros shows pelo Brasil em datas próximas a essa, sim. Só estamos finalizando os detalhes.

REG: Essa vai ser a primeira vez que vocês vão tocar com o Metallica desde a turnê de 1983, certo? O que vocês lembram daqueles tempos e quais as expectativas para reencontrar a banda na estrada de novo, já que agora o Metallica é uma banda gigante?

Gallagher: Bem.. Isso foi há muito tempo em uma galáxia perdida. Era a primeira turnê deles e eles estavam abrindo para nós. Era um a época louca e todos nos divertimos - era como se fosse uma guerra de guerrilha, levar o metal para o coração dos Estados Unidos. Foi uma boa agenda e aproveitamos bem. Tenho certeza de que será um grande encontro, já que eles passaram por tantas coisas, mas continuam sendo os mesmos caras.

REG: O Raven é sempre associado a new wave of British heavy metal, que teve destaque na década de 80 ao revelar bandas como Iron Maiden e Saxon, entre outras. Como você vê essa cena, olhando hoje? Como isso deu certo, especialmente se lembrarmos que era o boom do punk?

Gallagher: Foi tudo coincidência - um monte de entusiastas do rock como nós começando bandas para tocar um tipo de música que ninguém ouvia em lugar algum, tudo pela paixão pela música. Por isso é que essas bandas da primeira nwobhm tinham um som único. Muita música boa e energia saíram daqueles tempos! A única coisa que o punk nos deu foi a ideia de que poderíamos fazer tudo aquilo por conta própria.

REG: Parece que a coisa toda acontecia mais em Londres, e vocês são de Newcastle. Como vocês lidaram com isso, em tempos sem internet?

Gallagher: Poderíamos estar na lua! Foi por pura sorte que a Neat Records ficava em Wallsend, a cidade mais próxima de nós e funcionou para nós, já que éramos diferentes sonoramente e geograficamente.

REG: Em janeiro vocês tocaram no cruzeiro marítimo 70000 Tons of Metal, entre Miami e México. Como foi isso?

Gallagher: Foi foda! Tocamos dois sets matadores. Curtimos junto com fãs novos e antigos, e amigos de outras bandas, vimos todos se emocionarem. Eu dei um clínica de baixo e ainda tivemos um dia livre na praia no México, tudo de bom!

REG: Como o acidente com o Mark Gallagher, no início dos anos 2000, afetou os planos da banda? Vocês chegaram a pensar em parar de tocar naquele período? Como isso mudou a cabeça de vocês?

Gallagher: Obviamente que isso suspendeu tudo na banda, e ele é meu irmão, o que é a coisa mais importante. Apenas esperamos e rezamos que ele pudesse andar de novo, basicamente, ao mesmo temo em que pensávamos: “O que vamos fazer com a banda?”. Os dois pés dele quase foram arrancados, ele tinha uma barra de metal atravessada em uma das pernas e a outra teve o músculo da batata da perna arrancado! Disseram que ele teria que amputar a perna, mas ele não quis. Então havia a possibilidade de ele não voltar mais a andar, mas ele também não aceitou. Em torno de três anos depois do acidente fizemos uma turnê com ele tocando em uma cadeira de rodas, e sabíamos que ele poderia voltar a andar se nos dedicássemos a isso, mas teve que ser passo a passo.

REG: Está tudo bem com ele agora? Está totalmente recuperado ou precisa de ajuda para se locomover?

Gallagher: Ele ainda sofre com dores nos joelhos, nunca se sabe. Eu diria que ele evoluiu 95% do ponto em que estava, o que era insano para começar.

REG: O disco mais recente com músicas inéditas, “Walk Through Fire”, foi lançado em 2009. Vocês estão compondo para um novo lançamento? Já têm músicas novas?

Gallagher: Acabamos de lançar o DVD “Rock Until You Drop - A Long Days Journey”, que conta a história da banda e tem músicas novas tocadas ao vivo e em estúdio, entrevistas conosco e com Lars Ulrich, Dee Snider (Twisted Sister), Chuck Billy (Testament), Michael Wagener (produtor), David Ellefson (Megadeth), etc. Agora estamos compondo muitas músicas para um próximo álbum, que pretendemos começar a gravar em maio. E estamos muito empolgados, já que elas continuam de onde paramos em “Walk Through Fire”, mas ainda é cedo para falarmos.
Cartaz de divulgação da turnê americana do Raven em 1983, com o Metallica na abertura

Fonte: Rock em Geral

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