Reunited. 33 Years In The Making.
Mas o que esperar dessa reunião? Ela realmente vale a pena? O Black Sabbath faz parte do pequeno grupo que mudou a história da música. O grupo tornou o rock mais pesado, sombrio e escuro, acabando com o colorido sonho hippie quando o seu primeiro disco, batizado apenas com o nome da banda e com a imagem tétrica de uma bruxa enigmática na capa, chegou às lojas no fatídico 13 de fevereiro de 1970, não por acaso uma sexta-feira. Os principais responsáveis por isso foram os riffs inspirados, pesadíssimos e escuros do guitarrista Tony Iommi e as letras sinistras de Geezer Butler. Fechando o time, o carismático vocal de Ozzy Osbourne e a bateria única de Bill Ward.
Entre 1970 e 1975 o Black Sabbath gravou seis álbuns fantásticos em sequência, que definiram o heavy metal como gênero. Black Sabbath (1970), Paranoid (1970), Master of Reality (1971), Vol 4 (1972), Sabbath Bloody Sabbath (1973) e Sabotage (1975) são obrigatórios em qualquer coleção – o meu preferido, só para constar, é o sensacional Sabbath Bloody Sabbath. Já cansados das turnês infinitas e um tanto estagnados musicalmente, isso sem falar das doses industriais de cocaína e álcool ingeridas diariamente, o grupo lançou ainda Technical Ecstasy (1976) e Never Say Die! (1978), últimos registros com a voz de Ozzy, que deixou a banda em 1979.
Enquanto o Madman dava início a uma ótima carreira solo aclamada tanto pela crítica quanto pelo público, o Black Sabbath se reinventava de maneira sublime com Heaven and Hell, disco lançado em 1980 com o ex-Rainbow Ronnie James Dio nos vocais. Dio gravaria ainda Mob Rules (1981), mas deixaria o grupo de forma prematura por divergências sobre a mixagem do duplo ao vivo Live Evil (1982). O resto da trajetória da banda, apesar de contar com discos interessantes, é claramente inferior aos trabalhos com as vozes de Ozzy e Dio.
Para tentar entender como o Sabbath soará agora em 2011, é preciso analisar o que os seus integrantes fizeram nos últimos anos. Iommi e Geezer lançaram em 2009 o bom The Devil You Know ao lado de Dio, álbum com uma sonoridade muito mais próxima – como era de se esperar – a Heaven and Hell e Mob Rules do que aos discos dos anos 1970. Um pouco antes, Iommi retomou a parceria com Glenn Hughes (Trapeze, Deep Purple, Black Country Communion), iniciada no subestimado Seventh Star (1986), e colocou na praça dois excelentes discos – The 1996 DEP Sessions (2004) e Fused (2005). Além disso, reativou em 2011 o projeto WhoCares na companhia de Ian Gillan e lançou o ótimo single “Out of My Mind / Holy Water”. Já Geezer Bulther gravou em 2005 o segundo disco do seu projeto G//Z/R, Ohmwork, com uma sonoridade influenciada pelos grupos de new metal, o que não agradou os fãs. O baterista Bill Ward passou por diversos problemas de saúde nos últimos anos, então deixou a sua carreira musical meio de lado nesse período.
O que, como você bem sabe, não aconteceu com Ozzy Osbourne. O vocalista lançou em 2010 um de seus melhores discos, o surpreendente Scream, onde a sua música soou atual e renovada. Muito disso se deveu à entrada do guitarrista grego Gus G (Firewind) em sua banda, no posto ocupado anteriormente por Zakk Wylde.
Na minha opinião, o retorno do Black Sabbath vale a pena principalmente pelo anúncio do lançamento de um álbum com canções inéditas. Excursionar pelo mundo tocando apenas os clássicos é legal, isso é inegável, mas servirá muito mais para agradar fãs saudosistas e encher ainda mais as contas dos músicos de dinheiro do que qualquer outra coisa. Como a banda tem realmente alguma pretensão artística com essa reunião, não irá se contentar apenas em tocar as mesmas canções de sempre. Era só perceber o comportamento inquieto de Iommi, compositor prolífico e que já declarou aos quatro ventos possuir “um armário cheio de riffs inéditos”, para concluir que a coisa iria além. O fato de Ozzy também estar com o fôlego renovado após a ótima repercussão de Scream colocava ainda mais lenha na fogueira para um possível disco de estúdio, confirmado agora, e que me agradou muito.
Mas é preciso deixar claro uma coisa. Qualquer pessoa com mais de 5 anos de idade sabe que o Black Sabbath de 2011 não soará como o Black Sabbath da primeira metade dos anos 1970. O quarteto não tem mais 20 anos de idade, pelo contrário: quase 40 anos separam um período do outro. Nesse tempo os músicos envelheceram, amadureceram, mudaram. É difícil tentar adivinhar como um novo álbum do Sabbath soará hoje em dia, ainda que algumas características não mudem: os riffs pesados e arrastados de Iommi estarão presentes, bem como as linhas vocais grudentas de Ozzy. Essas duas características garantem a ligação com o passado, mesmo que o restante aponte para um disco com uma sonoridade bastante atual – e quando eu digo atual eu me refiro a uma produção excelente, com timbres graves, pesadíssimos, e, simultaneamente, orgânicos. Enfim, a cara de Rick Rubin, um produtor que sabe como trazer à tona as melhores qualidades de um artista, costuma dar aos seus trabalhos.
A volta do Black Sabbath é boa para o heavy metal, isso é inegável, afinal estamos falando dos pais do gênero que tanto amamos. Ver a banda ao vivo novamente será certamente inesquecível, mas poder ouvir canções inéditas do quarteto será ainda mais gratificante. Quando um grupo dessa magnitude anuncia o seu retorno, todos que estão envolvidos com o heavy metal – músicos, fãs, jornalistas – saem ganhando. Eventos como esse injetam combustível da mais alta octanagem no coração de cada headbanger em todos os cantos do planeta, reativando a paixão, o amor e a fé pelo estilo.
Seja bem-vindo de volta, Black Sabbath. Nunca esquecemos, e jamais deixamos de pensar, em vocês. Estávamos com saudades. É bom tê-los ao nosso lado novamente.
Fonte: Whiplash
0 comentários:
Postar um comentário